terça-feira, 30 de maio de 2017

Ufa ! (auto-patada na boca).


webcam-toy-foto94, 28-05-2017 (19:35:52), 800 x 600 pixels.


   É medo de morrer. Só pode ser isso. Não é outra coisa, não pode. Se fosse, não era isto. É medo de morrer. Faço isto, desta maneira compulsiva por ter medo (muito) de morrer. Toda a gente tem medo de morrer, até os que se querem suicidar devem ter inevitavelmente medo de morrer. Morrer é deixar-mos de ser nós próprios. Para mim dormir é morrer. É deixar de ser eu durante algum tempo. Desprezo o sono. Irrito-me com o meu corpo quando ele me deixa, quando ele faz com que a minha cabeça seja demasiado pesada para a minha pessoa a suportar. Consciencializo-me que vou morrer. Pode ser por 15 minutos, pode ser pra sempre, mas morro, inevitavelmente.
   Tomo consciência que é disto que é criada a tal ultra consciência que tanto teimo em ter. Ser-se consciente remete a um afastamento, afastares-te de alguma coisa leva-te a ter noção do todo e assim tens possibilidades de te situar e de situar o resto. A consciência vem da ideia do todo, o todo de alguma coisa - não posso cometer o erro de me afastar ao ponto de me perder do frame (vai-se mapeando, um mapa só é entendido quando se tem um ponto de referência). Ao ter noção do todo, ao ter a possibilidade de me questionar (criando pontes com as coisas que me circundam) vivo. É a possibilidade de pensar – ser consciente – que me vai dando segundos de vida. Pensar é uma constante evolução, mesmo que o pescoço se vire 180º para trás, as pernas andam sempre – tempo.

   Represento-me porque tenho medo de morrer? Ideia kitsch e acertada. Inconsciente mas acertada. Intrínseca e por isso, acertada. Aquele fui eu, eu fiz aquilo/fui aquilo, aquilo fui eu, eu vivi. O testemunho daquilo que fazemos. O testemunho que é desculpa, porque o que interessa é o que é feito antes do crime. O crime de matar o tempo. Só matas o tempo quando és consciente dele e de ti (caso contrário, chama-se a isso passar tempo). Só és consciente de ti quando és consciente daquilo que te rodeia, ou ainda pensas que não és um reflexo daquilo que te rodeia? O que tento fazer é brilhar (a metáfora do brilho pode perfeitamente ser substituída por tresandar) ao ponto de estar presente/experienciado no mundo que me rodeia. Quero fazer parte desse reflexo mas quero sê-lo sendo eu mesmo (não tem mal seres mau, tem seres falso!)
   Agora é sobre o brio, e este gajo, esta palavra que me passa diariamente pela cabeça e me rouba tempo, deixa-me com o nó enorme na parte de frente do pescoço e vai-se apertando como um nó de correr num fio ensopado em água, neste caso, o meu caso, este fio bifurca-se e desagua em dois orifícios opostos e simétrico, junto à parte superior da cana do meu nariz. Digo isto, desta maneira sentimental - como expressão os que menos sentem – porque tenho noção de que esta ultra consciência me vai pouco a pouco tirando o brio. O brio é aquilo que se tem e quando se consciencializa algo que  é intrínseco, inevitavelmente perde-se esse brilho dado pelo brio. O brio é sentido e não faz/tem que fazer sentido. O brio sente-se. Há brio quando se faz por fazer antes mesmo de este fazer, ou não, sentido. A falta de brio vem então com o sentido, ou melhor dizendo, o sentido surge com a falta de brio. O sentido é uma desculpa, é um desvio. Tudo é desculpa quando se tenta explicar algo, quando se usam palavras. As palavras são a desculpa para a minha incapacidade de retribuir algo que é/foi sentido. Já os objetos, são retribuições que não se desculpam.
   Se há brio que este continue inconscientemente e que seja aplicado descabidamente. Descabidamente ao ponto de ser inútil no sentido literal da palavra, e fundamental (preciso disto para viver) no sentido literal daquilo que é devolvido por este. Isto dá brio. Isto tudo, este labirinto que se vai alastrando nos espaços brancos que existe entre cada uma das letras que escrevo para dizer que hoje sinto que ando a perder o brio. Perco o brio em sentir-me estrangeiro a mim mesmo (não que alguma vez me tenha sentido conterrâneo à imagem que me surge no espelho) sinto que a minha consciência oprime a minha inconsciência. 
Mas eu não a quero perder.
Não quero saber dela.
Se souber, saberei que a perdi.

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