Nestas imagens e em alguns textos perdidos, existe uma força maior que te move a fazer estas coisas e que, mesmo tendo noção da força da poesia e da sua humildade/engodo, há coisas concretas que são necessárias serem partilhadas de uma maneira mais (ao mesmo tempo que as de cima) concretas. Mais concretas para se ser objetivo com o outro e mesmo para com o teu ponto de vista. Nenhuma delas tem que ser uma tese de mestrado mas é importante evidenciá-las. É também uma boa maneira de ires pouco a pouco esclarecer para ti mesmo aquilo que delas vais aspirando/retirando.
A verdade é que todas elas têm coisas em comum, mas é a abstracção delas (a
falta de argumentos e respostas) e a hierarquia que se apresenta por de trás
desta abstracção (no caso dos manuais e dos desenhos do Caril é o mundo/mercado
da Arte, no caso das obras é a sociedade de consumo que nunca para e, mais abstracto
ainda, que se constrói de uma maneira que faz com que nunca mais pare, no caso
das feridas é, como nos desenhos do caril e nos manuais, a valorização de
tarefas afastando o seu resultado primário revalorizando pequenos fragmentos de
cada um dos gestos que advém antes da sua construção) E isto tudo advém da
ideia, da hipótese que nós criamos das coisas. É fundamental haver – não como
ilustração das imagens em si, não como folha de sala de um museu – um texto
(sendo o instrumento de comunicação mais amplo em relação à sua concretude) que
fale sobre o que é sem banhar directamente estas imagens/textos/desenhos.
Aquilo que sobressai mais estes dias é que se torna difícil viver neste
mundo abstracto que assim o é por ser demasiado frágil e tremulo para assim não
o ser, e é necessário lutar também nas suas fronteiras com a realidade, que a
meu ver são a vida, o tempo, a natureza. Esta luta não se trata de uma batalha
que aprofunda a separação destes dois mundo que é cada vez mais forçada e
evidente, mas o de dissimular estas e todas as fronteiras entre o que é e o que
não é, o bom e o mau, a arte e a não arte, o trabalho e o lazer, o consumo e a
produção, etc, etc, etc. É necessário criar pequenos exemplos/rasteiras que
possam apresentar-se como pontos de partida para que outros colectivos e
indivíduos possas explorá-los e transformá-los. É necessário a pesquisa ser
partilhada, seja do que quer que se trate. É necessário que a importância das
coisas se afaste do seu valor económico, pois este é o mais dos abstractos e
também poderoso deste mundo instável. É necessário dar valor às coisas pelo valor
que outros sentem por elas. Valor intrínseco e nem sempre argumentável, mas
justo e nunca no intuito de discriminar ou magoar o outro. Trata-se do processo
para um bem comum. E que sejamos diretos com o facto deste bem comum afastar-se
do conforto que nós sentimos e vivemos hoje em dia. A mudança não se cria
apenas nos grandes eventos nem nos grupos, a mudança começa em ti, tu peça d’um
puzzle que te ultrapassa, mas que se o teu pedaço se tornar exemplo para aos
que a ele se agrupam, o véu criado por ti que desenha este puzzle como
inultrapassável desaparece, e vais-te apercebendo pouco a pouco que és tu que
fazes a diferença, estejas ou não consciente dela, no mundo em que vives,
habitas e produzes.
Palavras soltas de uma vida concreta,
Kevin Claro, Montepellier 09/10/20
Sem comentários:
Enviar um comentário