sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A ideia que é mais forte e concreta que a realidade !


            Nestas imagens e em alguns textos perdidos, existe uma força maior que te move a fazer estas coisas e que, mesmo tendo noção da força da poesia e da sua humildade/engodo, há coisas concretas que são necessárias serem partilhadas de uma maneira mais (ao mesmo tempo que as de cima) concretas. Mais concretas para se ser objetivo com o outro e mesmo para com o teu ponto de vista. Nenhuma delas tem que ser uma tese de mestrado mas é importante evidenciá-las. É também uma boa maneira de ires pouco a pouco esclarecer para ti mesmo aquilo que delas vais aspirando/retirando.

A verdade é que todas elas têm coisas em comum, mas é a abstracção delas (a falta de argumentos e respostas) e a hierarquia que se apresenta por de trás desta abstracção (no caso dos manuais e dos desenhos do Caril é o mundo/mercado da Arte, no caso das obras é a sociedade de consumo que nunca para e, mais abstracto ainda, que se constrói de uma maneira que faz com que nunca mais pare, no caso das feridas é, como nos desenhos do caril e nos manuais, a valorização de tarefas afastando o seu resultado primário revalorizando pequenos fragmentos de cada um dos gestos que advém antes da sua construção) E isto tudo advém da ideia, da hipótese que nós criamos das coisas. É fundamental haver – não como ilustração das imagens em si, não como folha de sala de um museu – um texto (sendo o instrumento de comunicação mais amplo em relação à sua concretude) que fale sobre o que é sem banhar directamente estas imagens/textos/desenhos.

Aquilo que sobressai mais estes dias é que se torna difícil viver neste mundo abstracto que assim o é por ser demasiado frágil e tremulo para assim não o ser, e é necessário lutar também nas suas fronteiras com a realidade, que a meu ver são a vida, o tempo, a natureza. Esta luta não se trata de uma batalha que aprofunda a separação destes dois mundo que é cada vez mais forçada e evidente, mas o de dissimular estas e todas as fronteiras entre o que é e o que não é, o bom e o mau, a arte e a não arte, o trabalho e o lazer, o consumo e a produção, etc, etc, etc. É necessário criar pequenos exemplos/rasteiras que possam apresentar-se como pontos de partida para que outros colectivos e indivíduos possas explorá-los e transformá-los. É necessário a pesquisa ser partilhada, seja do que quer que se trate. É necessário que a importância das coisas se afaste do seu valor económico, pois este é o mais dos abstractos e também poderoso deste mundo instável. É necessário dar valor às coisas pelo valor que outros sentem por elas. Valor intrínseco e nem sempre argumentável, mas justo e nunca no intuito de discriminar ou magoar o outro. Trata-se do processo para um bem comum. E que sejamos diretos com o facto deste bem comum afastar-se do conforto que nós sentimos e vivemos hoje em dia. A mudança não se cria apenas nos grandes eventos nem nos grupos, a mudança começa em ti, tu peça d’um puzzle que te ultrapassa, mas que se o teu pedaço se tornar exemplo para aos que a ele se agrupam, o véu criado por ti que desenha este puzzle como inultrapassável desaparece, e vais-te apercebendo pouco a pouco que és tu que fazes a diferença, estejas ou não consciente dela, no mundo em que vives, habitas e produzes.

Palavras soltas de uma vida concreta,

Kevin Claro, Montepellier 09/10/20 

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