Acontece-me várias vezes,
quase sempre senão sempre, esta vontade de comer imensamente quando tenho uma
ideia ou vejo coisas que me dão vontade de escrever, desenhar, fotografar ou o
que quer que seja. Não consigo bem entender porquê, e para fugir a isso – não que
tenha problemas em comer mas tenho em só comer – saio de casa para fazer coisas
com a ideia que vou pensar nessas coisas enquanto me desloco a outro sítio longe
deste cheio de comida e internet. Há ideias, são várias, um pouco perdidas,
mas, na minha cabeça, com pés corpo e cabeça e super hyper bem estruturados. Na
minha cabeça. Esta minha cabeça que faz parte deste corpo que em parceria com
ela vai trabalhando e tendo dificuldades de não o fazer, pois esta inventa mais
coisas que, apesar de super hyper estruturadas, vão-se acomulando umas às outras turvando as que vão sobrepondo, e estas, quanto mais e mais turvas,
mais vontade me dão de sair de casa pois na verdade dão-me vontade de comer mas
eu forço-me a querer sair de casa. Estas ideias são-me claras. Os projetos, a
vontade de os concretizar e de como os quero experienciar é quase nítida na
minha cabeça, é quase como se soubesse o que quero que isso vai ser mesmo
sabendo que aquilo que mais anseio e é por isso que o faço é que isto se desvie
daquilo que pensava que seria, para ser, mesmo que não muito diferente,
diferente daquilo que eu esperava. Então, revela-se que o mais importante são
as rasteiras e maneiras – desculpas – de se entamar (abec) tempo a não fazer as
coisas que… que se deveriam fazer? Que quero fazer? Sabes, aquilo que me desvia
daquilo que sinto que sei mas não o entendo é que isto é ligado ao lazer e ao ócio. Não que não o posso ser, mas não é. E sabes porque é que não é? Porque se
o for – pode ser se tu assim o quiseres – se o for então tudo é lazer e ócio,
porque isto é tudo, isto é cabeça que não vive sem corpo e este tem pés e uma
cabeça também, e isso porque separar, separar meu amigo, separar serve para
separar aquilo que é um só – mesmo que completo por vários – e não de outra
forma existe. Se existe é pra ti, tu que não és eu, e eu, eu sou todo, tu não
mas eu não sou tu, e apesar de seres aquilo que és n’um todo, eu ao contrário
de ti não vivo sempre contigo e por isso só te conheço às migalhas. Mas não é
por te conhecer às migalhas que acho que és feito de migalhas. És queijo e
doce, és alface e maionese, e se as tuas migalhas não me mostram isso a mim,
nem a ti precisam de o mostrar, porque tu, tu que moras contigo o tempo todo,
sabes o que vais colocando dentro da sandes.
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