domingo, 9 de fevereiro de 2020

E ele perguntou-me que, se caso o fizesse, teria tempo para o resto? !




E ele perguntou-me que, se caso o fizesse, teria tempo para o resto? Mas, nada é o resto nem nada é algo mais do que isto. Isto hoje, hoje agora agorinha. Isto, isto é tudo. Desculpa se isto é curto mas é assim. É só isto e só isto é tudo. Isto é a maneira de arquivar o agora. É a maneira de enfrentar o presente para que ele pareça menos efémero do que o é. Mas ele é o que é e não precisa nem de mim nem de ser arquivado para ser o que é. E não é efémero, eu é que sou. E tudo isto vem desta fragilidade de se ser efémero e de, de uma maneira egoísta e pouco meditada na verdade, não querer que as coisas deixem de ser. Nunca. Mas aos poucos provas coisas ou coisas provam-te que as coisas não são bem assim então acordo mais cedo, despacho-me mais do que o normal e assim, mais efemeramente vou vivendo dentro desta coisa que esta estagnada mas parece-me sempre ter 24 horas. Procuro coisas que não sei como se parecem nem como sabem. Mas procuro, nem sei porquê pois acho que se soubesse não iria achar nada ou nada de especial a aquilo que vou procurando mas isso não interessa pois não posso perder tempo com isto porque tenho coisas a encontrar.
Vou lutando com todas as minhas pequenas forças a fazer coisas incoerentes mas menos que o que sinto quando não as faço. É uma batalha na qual eu não sei as regras nem de que lado estou, nem se tenho algum adversário sem ser eu mesmo e tudo o que isso ao meu redor representa. Os espelhos dão-me coisas mais do que me devolvem o que quer que seja pois demasiado penso sobre eles e das suas imagens para ser apenas uma devolução. As coisas vão-se fazendo ao correr atrás de coisas com coisas que no caminho vou encontrando. Não sou pintor nem fotografo mas uso tinta e uma máquina fotográfica. Também não sou escritor mas penso muito. Muito demasiado como se isso fosse possível se calhar até é mas quem disso sabe se eu é que não sei escrever? Bem, ao respirar fundo apercebo-me que sinto um vazio no meu peito e que ando a perder tempo a perder tempo. Perder tempo a perder tempo a procurar tempos. Tempos em que não se teve realmente tempo para neles meditar mas que ideias vagas deles tenho e eles vagamente me vão ajudando a tornar real as coisas que à minha frente se vão desvelando. Procuro sombra e sol, procuro paz e loucura nos mesmos sítios. Sítios desconhecidos mas bem parecidos. Sítios que se vão bifurcando aos milhares e que se vão interlaçando uns nos outros. Penso sempre que escolhi o bom caminho e é verdade. Se não o fosse não estaria aqui. Então, não há caminhos, há algo que parece ser um plano gigante em que podes cambalear de um lado para o outro. Quanto mais cambaleais mais te apercebes que este plano é mais um pântano do que uma estrada. Então assustas-te e tentas sair mas sabes como diz o ditado quanto mais te mexes mais soas, quanto mais soas mais água terás de beber e quanto mais água bebes mais fontes terás de procurar. Pode ser que ao caminhares de uma fonte à outra te apareçam novas coisas que pedem tinta, fotografias ou meditação. Mesmo quando souberes que tudo isto é o mesmo plano não há mal nenhum em mentires-te a ti mesmo só para momentaneamente te esqueceres de onde estas, de quem tu és e do que é o quê. As palavras nada dizem daquilo que se vai sentido mas são a minha única arma para mais tarde ter leves noções das coisas pensadas terem sido sentidas. Pensando e pesando ao longo dos dias, a afirmação que nada é tudo e tudo é nada torna-se mais pesada, pesada e turva, mais vozes à pedirem por favor que isso não seja uma verdade e que o melhor é ter um bom trabalho, uma boa casa, e por amor da santa, que continues a pintar pois há pessoas que têm saudades de ver pinturas tuas e mesmo que essas pessoas não mereçam nada por não te conhecerem e saberem que todas as tuas pinturas residem dentro de ti fá-lo pois é ao fazeres coisas que vais tirando tempo ao tempo e é a sua abundância que te permite meditar sobre o facto de te estares a mentir a ti mesmo em relação às coisas que dizes, pensas ou escreves dizendo aos solavancos na tua cabeça.

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