terça-feira, 29 de julho de 2014

"Espla (nada)" !


Tentar observar o NADA das coisas !

1 comentário:

  1. O uso do diário gráfico, a respeito da sua ontológica relação com o dia-a-dia, dir-se-á que é voyeurista. Esta ideia não pretende estabelecer uma relação com alguma patologia psicológica de carácter sexual, mas antes identificar-se com o princípio básico do desenho de representação: ver, pensar e fazer.
    Os desenhos em cadernos são o registo de uma condição que nos pertence enquanto sujeitos interessados. O desenho à vista, obriga a um posicionamento do seu criador, que lhe confira o domínio de uma representação. Esse domínio, com vista a um resultado qualquer, não é desinteressado, na medida em que o desenhador procura que o seu registo seja concordante com o fim a que se propõe.
    O “ver”, desencadeia um processo de construção de uma fantasia imaginada. Quem usa o caderno como um suporte de registo gráfico do quotidiano tem, necessariamente, que manter uma relação com o espaço e com o “outro” num sentido de distância, subversivamente respeitosa. Ou seja, queremos estar o mais próximo possível sem que por tal, estejamos a dar indícios de invasão de uma privacidade que não nos pertence, mas a qual desejamos e queremos fazer parte.
    O prazer que se obtêm através desta prática de desenho, a partir da visão sobre os comportamentos, as formas, as relações espaço-temporais do “outro”, resulta dos motivos de desejo, sobre o “outro”. O desenho num caderno é a oportunidade de criar uma memória que transporta o “outro” para o universo particular do “eu”. O registo realizado, é sentido como uma conquista. O sentido de fim que não é inocente nem indiferente perante a existência do “outro”. É a recompensa pela espera e distância ocorrida.
    O desenho em cadernos, apega-se a qualquer coisa e não se prende a nada. O desenhador do quotidiano, tal como o voyeur, não quer ser apanhado em flagrante, mas não se importa de ser visto. Ele rouba o que vê, não por aquilo que vale, mas apenas pelo prazer de o fazer. Trata-se de uma fixação no que é o “outro”, esforçando-se por traze-lo para a sua esfera privada. Um desenho de cada vez, de qualquer coisa, desde que seja outra coisa.
    Nas suas fantasias, o sujeito pode tudo. O sentimento de omnipotência é criado pelo controlo do fim pretendido. Tal como o voyeurismo, o desenho do quotidiano é uma forma do sujeito viajar nas suas fantasias. Os desenhos são a obra das suas fantasias. Realiza-se o desejo através do “outro”, na necessidade de o tornar real.

    http://sketchbooktherapy.wordpress.com/not-papers-pt/

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