Vamos partir destas duas premissas: Desenho acabado é desenho aplicado. Desenho inacabado é desenho experimentado.
Existe nos desenhos em cadernos uma espécie de ADN próprio que leva a que, o que lá resulta, não seja directamente comparável com outros desenhos noutros suportes. Será talvez, uma espécie em particular.
Uma destas características nasce, concretamente, em quem usa cadernos para desenhar e que, de uma forma geral e comum, assume o caderno como um local descomprometido para com resultados finais. Ou seja, apropriando-me do próprio termo inglês "sketchbook" (traduzindo à letra: caderno de esboços) será difícil libertar o desenho que lá resulta desta característica de esboço. O próprio étimo grego "schedios" significa “aquilo que é temporário”. Assim, entendemos que por temporário seja um certo fenómeno que existe para um prazo (temporal, espacial, material, ideológico…) mínimo aceitável, e que dele resultará um outro fenómeno muito mais abrangente dessas condições.
Se de uma forma ontológica, o caderno é um suporte para coisas “a prazo” então, o que estará presente com mais naturalidade será esse carácter de desenho inacabado.
O desenho inacabado é um desenho experimentado pelo princípio de que, se não nos interessa ver no desenho do caderno uma finalidade (aplicação) mas sim apenas a experiência pontual, então queremos que ela resulte como um espaço aberto, direccionado é certo, mas indefinido na sua aplicação. Queremos ter e fazer aquela experiência, mas desde que ela nos dê o mínimo desejável, avançamos para a seguinte e assim sucessivamente em todas as páginas do caderno. Portanto, a falta de paciência (ocasional ou recorrente) é um sintoma de que o desenho em cadernos apenas admite a experiência mínima necessária para a obtenção daquela experiência em concreto. Tudo o que vá para além dessa experiência mínima resultará num esforço (gradual, ou exponencial… não sei bem) de acabamento (territoralizar, cercar, fechar, contornar…) que dará ao desenho um sentido aplicativo.
O desenho “acabado” é uma tese (fim de percurso, inicio de outro, meta atingida, um livro). O desenho “inacabado” coloca as hipóteses (abre caminhos, eleva-nos para outros horizontes, um caderno)
Concluindo: ainda bem que sentes a falta de paciência quando desenhas nos cadernos.
Antes de tudo obrigado pela explicações! Acho que nunca olhei para nenhum trabalho meu e disse "isto está acabado" aliás muito raramente pego num trabalho que comecei no dia anterior ( por isso é que gosto de pintar telas em 5 ou 6 horas )e para mim este lema é "sagrado" quando se assine não se mexe mais, mas não quero assim dizer que esta acabado mas sim a minha necessidade de me expressar. Acho que se valoriza demasiado esses "trabalhos acabados" (que não existem). Espero que se algum dia alguém quiser conhecer pelos meus trabalhos o que sou, pegue nos meus sketchs e desvalorize o resto das coisas, pinto nas telas pura e simplesmente pelo suporte e pela tinta, não porque fica bem numa parede ou numa estante de uma galeria. Resumindo: ainda bem que sinto falta de paciência quando me exprimo.
Vamos partir destas duas premissas:
ResponderEliminarDesenho acabado é desenho aplicado.
Desenho inacabado é desenho experimentado.
Existe nos desenhos em cadernos uma espécie de ADN próprio que leva a que, o que lá resulta, não seja directamente comparável com outros desenhos noutros suportes. Será talvez, uma espécie em particular.
Uma destas características nasce, concretamente, em quem usa cadernos para desenhar e que, de uma forma geral e comum, assume o caderno como um local descomprometido para com resultados finais. Ou seja, apropriando-me do próprio termo inglês "sketchbook" (traduzindo à letra: caderno de esboços) será difícil libertar o desenho que lá resulta desta característica de esboço. O próprio étimo grego "schedios" significa “aquilo que é temporário”. Assim, entendemos que por temporário seja um certo fenómeno que existe para um prazo (temporal, espacial, material, ideológico…) mínimo aceitável, e que dele resultará um outro fenómeno muito mais abrangente dessas condições.
Se de uma forma ontológica, o caderno é um suporte para coisas “a prazo” então, o que estará presente com mais naturalidade será esse carácter de desenho inacabado.
O desenho inacabado é um desenho experimentado pelo princípio de que, se não nos interessa ver no desenho do caderno uma finalidade (aplicação) mas sim apenas a experiência pontual, então queremos que ela resulte como um espaço aberto, direccionado é certo, mas indefinido na sua aplicação. Queremos ter e fazer aquela experiência, mas desde que ela nos dê o mínimo desejável, avançamos para a seguinte e assim sucessivamente em todas as páginas do caderno.
Portanto, a falta de paciência (ocasional ou recorrente) é um sintoma de que o desenho em cadernos apenas admite a experiência mínima necessária para a obtenção daquela experiência em concreto. Tudo o que vá para além dessa experiência mínima resultará num esforço (gradual, ou exponencial… não sei bem) de acabamento (territoralizar, cercar, fechar, contornar…) que dará ao desenho um sentido aplicativo.
O desenho “acabado” é uma tese (fim de percurso, inicio de outro, meta atingida, um livro). O desenho “inacabado” coloca as hipóteses (abre caminhos, eleva-nos para outros horizontes, um caderno)
Concluindo: ainda bem que sentes a falta de paciência quando desenhas nos cadernos.
Antes de tudo obrigado pela explicações! Acho que nunca olhei para nenhum trabalho meu e disse "isto está acabado" aliás muito raramente pego num trabalho que comecei no dia anterior ( por isso é que gosto de pintar telas em 5 ou 6 horas )e para mim este lema é "sagrado" quando se assine não se mexe mais, mas não quero assim dizer que esta acabado mas sim a minha necessidade de me expressar. Acho que se valoriza demasiado esses "trabalhos acabados" (que não existem).
ResponderEliminarEspero que se algum dia alguém quiser conhecer pelos meus trabalhos o que sou, pegue nos meus sketchs e desvalorize o resto das coisas, pinto nas telas pura e simplesmente pelo suporte e pela tinta, não porque fica bem numa parede ou numa estante de uma galeria.
Resumindo: ainda bem que sinto falta de paciência quando me exprimo.